domingo, 19 de dezembro de 2010

O melhor "Ne Me Quitte Pas" de todos os tempos é brasileiro

Que Maysa Matarazzo foi uma cantora à frente de seu tempo isso todos nós já sabemos. E mesmo hoje, passados 33 anos que ela se foi, a beleza e a impavidez de sua voz arrematam os corações dos milhões de fãs. Prova disso é o número estrondoso de acessos ao vídeo do You Tube onde Maysa interpreta o clássico tema de amor "Ne Me Quitte Pas" do francês Jacques Brel.
O vídeo é um arquivo da extinta TVE e foi gravado num especial com a cantora em 1975, dois anos antes da morte de Maysa. O vídeo possui versões com legendas e traduções que somadas contabilizam a marca incrível de 5 milhões de acessos. A obra da cantora e compositora ficou ainda mais conhecida após a impagável minissérie biográfica produzida e exibida pela Rede Globo de Televisão em 2009 e que teve como diretor Jayme Monjardim, filho único de Maysa.
O fato é que Maysa ainda hoje é um fenômeno, sua voz, seu encantamento, suas polêmicas, seus escândalos e desafetos farão parte eternamente da história da MPB. Salve Maysa, a dama da voz!
Então, para os leitores requintados deste blog, vai aí um presente de natal. Maysa Matarazzo canta: "Ne Me Quitte Pas". Delirem!


sábado, 28 de agosto de 2010

O encontro com o rei do Sertão.


É com muita alegria que inauguro meu blog com um assunto da mais alta qualidade, ou talvez para fazer jus ao nome do blog, um assunto da mais phina estampa.

Estive na feira do Livro hoje no Hangar Centro de Convenções, quando ao pegar o flyer que exibia a programação logo li que o inigualável Ariano Suassuna era um dos gigantes que estariam palestrando no evento. Por sorte a palestra de Suassuna estava marcada para às 19:30, faltava pouco. Não hesitei em permanecer na feira até que chegasse a hora de ouvir o mestre.

Aos poucos o auditório com aproximadamente 700 lugares ia enchendo, sentei na terceira fila bem próximo à mesa onde iria ficar Ariano. Às 19:38 a apresentadora do evento subiu ao palco e logo fez uma rápida apresentação do palestrante mesmo que para a platéia politizada do evento apresentações fossem dispensáveis.

Abre-se uma porta na lateral do auditório e de lá sai aquela figura extremamente simpática acenando para o público que logo levantou-se para aplaudi-lo de pé. Passaram-se dois minutos e meio de um temporal de aplausos para o autor de "O auto da Compadecida".

Por um pequeno problema no microfone, as primeiras palavras do dramaturgo não puderam ser ouvidas pela platéia. Resolvido o problema Suassuna dispara a primeira "graça" da noite: "O microfone pode não estar muito bom mas a minha voz é feia assim mesmo viu minha gente?" Pronto! Ganhou ainda mais a atenção de todos que lotavam o auditório.

A palestra ganhou um formato de bate-papo com a simpatia e a confiança de Suassuna. Aos 83 anos demonstrou que apesar de ter se aposentado da universidade onde dava aula no Recife, ainda não pensa em parar com suas viagens pelo Brasil a fora.

Cheio de bom humor, Suassuna desenrolou uma sequência de "causos" que arrancaram gargalhadas da platéia.

Entre eles contou que certa vez na universidade onde dava aula, um professor francês o procurou no final de uma aula na qual Ariano teria criticado Michael Jackson.

"ele me procurou no fim da aula e disse que tinha me adorado mas discordava quanto as criticas a Michael Jackson pois achava que Jackson era um bom bailarino".

Pausou o discurso e fez um gesto com a boca que mais uma vez levou a platéia a uma crise de risos.

"Ora meu deus do céu, se aquilo for dançarino eu não sei mais o que aqueles grandes bailarinos da música clássica faziam. Pra mim aquele moço (Michael Jackson) não passava de um débil mental".

Logo na sequência aproveitando o gancho, o escritor falou sobre a importância dos jovens conhecerem a cultura do próprio país. "O Brasil e o povo brasileiro tem uma cultura riquíssima, não precisamos de coisa alguma daqueles desgraçados", afirmou Suassuna criticando duramente a influência da cultura norte americana nos jovens brasileiros e fazendo questão de dizer que em momento algum tem a intenção de ser xenófobo ou hostil com outras culturas.

Entre milhares de assuntos abordados pelo mestre, as ultimas palavras da noite foram as que me despertaram maior atenção e maior admiração. Suassuna ao falar de um jornalista que constantemente o insulta, revelou ter a seguinte teoria: "Eu divido a humanidade em duas metades. Uma é a que gosta de mim e concorda comigo, a outra é a metade equivocada". Restou-me levantar mais uma vez e aplaudi-lo de pé.

Um fato interessante é que há menos de um mês e meio tive a honra de estar no mesmo avião que Ariano em um vôo de Salvador para Brasília. Durante o vôo me chamou atenção aquele senhor que constantemente levantava da poltrona para dar uma caminhada, o que me parecia ser um cuidado com a circulação. Em uma das caminhadas, Ariano veio em minha direção, foi quando o reconheci fiquei inquieto para trocar uma palavra com ele. Por timidez não pedi autógrafo ou uma foto e morro de arrependimento por isso. Rezo agora para um dia ter a sorte de dividir novamente o mesmo vôo com esse gigante escritor.